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Fundação de SPb

No início da Grande Guerra do Norte (1700-1721), Pedro tomou posse dos postos  suecos no Neva, e em 1703 fundou a fortaleza de SS. Pedro e Paulo no rio, a poucos quilômetros do mar. No dia 27 de Maio (16 de Maio no Calendário juliano em vigor naquela época) de 1703 começaram escavações para erguer  a fortaleza na Ilha de lebres, em uma área pantanosa e selvagem no centro do Neva, onde o rio desagua no Golfo da Finlândia. Quando Pedro o Grande, finalmente derrotou os suecos em Poltava em 1709, a cidade, que de acordo com o costume holandês foi chamada Sankt Pieter Burkh, começou a crescer. Assim, São Petersburgo foi fundada em 101 ilhas cercadas pelo mar Báltico e o кio Neva. Sob as ordens do Czar, muitos canais foram escavados para organizar a circulacão da água e também foram aterrados os pântanos da costa sul. Hoje, a cidade é famosa por estes canais alinhados por sumtuosos palácios e residências dos czares e czarinas, a que deve o seu segundo nome – a Veneza do Norte.

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O nobre sonho do governante da cidade era abrir uma janela para a Europa. Ele encarregou este grandioso projeto ao arquiteto suíço Domenico Trezzini. Outro nome importante na construção da Segunda Veneza é o do arquiteto italiano Francesco Bartolomeo Rastrelli. Ainda hoje podemos admirar o Palácio de Inverno, O Palácio de Catarina em Tsarskoe Selo, o Grande Palácio de Peterhof projetados por ele. Entre os muitos objetivos de Pedro I um era fazer de São Petersburgo um dos portos principais comerciais do país. O czar desejava uma cidade de vanguarda, a «segunda Amsterdã » ou a «Terceira Roma». Em 1712, São Petersburgo tornou-se a nova capital do Império Russo e permaneceu assim até 1918. E até agora é chamada de capital do Norte da Rússia.

Durante sua história, a cidade mudou seu nome várias vezes. O nome original Sankt Piter burkh era na verdade holandês porque Pedro o Grande,  viveu e estudou naquele país por um certo período de tempo e era grande admirador da corte e arquitetura holandesas. Entre 1741 e 1825, durante o reinado de Elisabete, Catarina a grande e Alexandre I, a cidade tornou-se cosmopolita e tinha uma corte de notável esplendor. Estes monarcas encomendaram muitos palácios, edifícios governamentais e igrejas, tornando São Petersburgo uma das capitais mais importantes da Europa. Em 1914, a cidade passou a ser Petrogrado, porque os cidadãos não queriam que o nome soasse «alemão». Assim, a palavra alemã «burgo» foi substituída pela palavra eslava» grado», que significa Cidade. Em 1917 Petrogrado foi o berço da revolução. Aqui mesmo, os protestos dos trabalhadores levaram a uma greve geral, a um motim dos soldados e ao fim da monarquia. A cidade tomou o nome de Leningrado após a morte de Lenin (chefe do movimento revolucionário russo) em 1924. E assim permaneceu até a queda do comunismo. Em 1991, após um referendo popular, a cidade foi renomeada de São Petersburgo.

Hoje com certeza é a 2 cidade mais importante da Rússia, tanto pela população que tem cerca de 5 milhões de habitantes, quanto pelo território (mais de 1500 km.q.). Todo o seu centro histórico é declarado Património Mundial pela Unesco.

São Petersburgo é a capital cultural da Rússia. De fato, a maior parte do Patrimônio cultural nacional encontra-se aqui. É basicamente um museu a céu aberto. Nossa cidade esta intimamente ligada aos nomes dos famosos pesonagens da nossa literatura e música. Aqui viveu e trabalhou Dostoevsky, Gogol’, Pushkin, Nabokov, Chaykovsky, Rimsky-Korsakov, Shostakovich, etc. Nossa cidade também foi visitada pelos escritores estrangeiros. Basta nomear: D. Didrot, famoso filosofo francês, Giuseppe Verdi, List, Shtraus etc. São Petersburgo foi concebida por Pedro o grande, como uma cidade europeia. Ele pessoalmente convidava arquitetos estrangeiros para construí-la. É por isso que São Petersburgo é a mais «ocidental» das cidades russas.

São Petersburgo impressiona acima de tudo pela sua arquitetura. A área central possui alguns dos bairros mais bonitos do mundo, eles constituem uma fascinante vitrine dos estilos arquitetônicos em voga nos séculos XVIII e XIX. De Pedro o Grande a Nicolau I, até meados do século XIX, cada czar deu o seu ímpeto a um estilo arquitectónico diferente.

A visita da nossa cidade, portanto, pode ser imaginada como uma excursão dentro de estilos arquitetônicos que encontraram a máxima expressão aqui, graças, na maioria dos casos, aos arquitetos italianos. A relação entre a Itália e a Rússia, de fato, é uma relação que atravessa os séculos, e que alcançou o seu auge desde o século XVIII. Pedro o Grande se volta para a Itália e chama à sua corte artistas e arquitetos italianos para realizarem a sua magnífica capital. Entre os muitos arquitetos italianos que deram a sua contribuição para os edifícios magníficos de São Petersburgo, posso nomear: Francesco Bartolomeo Rastrelli, Giacomo Quarenghi, Vincenzo Brenna, Carlo Rossi e muitos outros. Durante as nossas excursões e passeios panorâmicos veremos as suas obras, palácios dos czares e nobres, onde viveram as personalidades eminentes . Passearemos pelas ruas que levam seus nomes.

Revolução de fevereiro de 1917

Quando a Primeira Guerra Mundial explodiu, em agosto de 1914, foi tomada a decisão de mudar o nome da capital russa do germânico São Petersburgo para o equivalente mais russo, Petrogrado. A Alemanha era então inimiga da Rússia, e todas as forças dentro do país tinham de ser usadas para derrotá-la. A maior parte da indústria da cidade começou a trabalhar para apoiar o esforço de guerra. Os trabalhos de construção pararam.

A guerra troxe muitas infelicidades para a Rússia. O governo do czar foi desacreditado e as tensões políticas começaram a aumentar. Para agravar ainda mais a situação, o fornecimento de alimentos estava significativamente em falta no final de 1916. Localizado no noroeste do Império russo, Petrogrado foi abastecida através da rede ferroviária, mas sofreu graves problemas durante a Guerra, com carência de suprimentos.

Petrogrado entrou no ano novo com seus habitantes enfurecidos esperando em longas filas para comprar comida nas lojas da cidade.

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A combinação entre a agitação social e a guerra levou à Revolução de fevereiro de 1917 e à abdicação de Nicolau II. A crise política e econômica continuou ao longo de 1917 e, no outono, O Partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lênin, tomou o poder político. Em 25 de Outubro (7 de novembro de 1917), o tiro em branco disparado pelo cruzador Aurora deu o sinal aos trabalhadores e soldados para invadir o Palácio de inverno, a residência atual do Governo Provisório totalmente ineficiente. A maioria dos Ministros foi presa e começaram os 73 longos anos do regime comunista.

No início de 1918, a guerra Civil eclodiu (1918-1921), e os soldados e trabalhadores revolucionários tornaram-se o núcleo do Exercito Vermelho. Quando os homens deixaram a cidade para as frentes da Guerra Civil, uma parte significativa da população migrou para o campo, onde as famílias encontraram maiores recursos para sobreviver. A população caiu de 2,3 milhões em 1917 para 722.000 no final de 1920. No início de 1918, as tropas alemãs estavam tão próximas de Petrogrado que o governo bolchevique sob lidarança de Vladimir Lênin decidiu transferir a capital para Moscou, que ainda estava longe da frente alemã. Petrogrado foi abandonada pelo governo e muitos nomes das ruas foram mudados de acordo com a «moda revolucionária». A Praça do palácio tornou-se a Praça Uritsky (assassinado político Bolchevique), e Nevsky Prospect tornou-se a avenida de 25 de outubro (após a Revolução de outubro). Varios monumentos foram erguidos para lembrar a revolução, mas a maioria foram mal projetados e construídos, e não duraram por muito tempo. Em 1924 o nome da cidade foi mudado para Leningrado.

A estação Finlândia tornou-se famosa como o lugar onde Lênin, ao retornar a São Petersburgo de uma viagem à Suíça em 3 de abril de 1917, fez um famoso discurso para a multidão modesta. A estação está localizada na margem norte do Rio Neva, cerca de 2 km ao norte da avenida Nevsky.

O cruzador Aurora

O histórico navio Aurora foi transformado em um museu flutuante ancorado. O cruzador, construído em São Petersburgo entre 1897 e 1900, participou ativamente na Guerra russo-japonesa de 1904-1905 e participou da batalha de Tsusima, na qual a maior parte da frota russa foi destruída. Após a guerra, o navio foi usado para o treinamento de militares e durante a Revolução de outubro de 1917 deu o sinal (disparando um tiro) para o ataque ao Palácio de Inverno. Durante a Segunda Guerra Mundial e o cerco de Leningrado, as suas armas foram desmontadas e usadas nas linhas de frente nas defesas da cidade. Após a guerra, o navio foi cuidadosamente restaurado e usado primeiro como um navio escola para cadetes da Escola Militar Nakhimov que fica em frente, e mais tarde como um museu flutuante.

Este foi, sem dúvida, o período mais trágico da história de São Petersburgo, um período cheio de sofrimento, mas também de heroísmo. Para todos aqueles que vivem em São Petersburgo, o cerco de Leningrado é uma parte importante da herança da cidade e uma memória dolorosa para as gerações mais velhas da população.

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Menos de doismeses e meio após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética foi atacada pela Alemãnha nazista. Em 8 de setembro de 1941, os alemães cercaram completamente Leningrado, e o cerco começou. O cerco durou um total de 900 dias, de 8 de setembro de 1941 a 27 de janeiro de 1944. Quase 3 milhões de civis (incluindo cerca de 400.000 crianças) se recusaram a se render e resistiram. O abastecimento de alimentos e combustível logo se esgotou, os transportes públicos não funcionavam, e no inverno de 1941-42 não havia nem mesmo aquecimento; faltava água, quase não havia eletricidade e muito pouca comida. Em janeiro de 1942, as porções da comida atingiram uma baixa de apenas 125 gramas de pão por dia por pessoa. Em apenas dois meses, janeiro e fevereiro de 1942, 200.000 pessoas morreram em Leningrado de frio e fome. Apesar destas trágicas perdas e condições desumanas, as indústrias de guerra da cidade continuaram a trabalhar e a cidade não desistiu. Entretanto, a cidade vivia. Os tesouros do Hermitage e as residências de Petergof e Pushkin foram evacuados e escondidos nos porões do Hermitage e da Catedral de São Isaac. Muitos dos estudantes da cidade continuaram seus estudos. Dmitry Shostakovich escreveu sua Sétima Sinfonia «Leningradense», que foi transmitida na cidade sitiada.

Em 27 de janeiro de 1944 o cerco cessou. Pelo menos 1.500.000 pessoas morreram. A maioria delas foram enterradas em valas comuns em diferentes cemitérios, a maioria delas no Cemitério Memorial Piskariovskoye, memória perpetua dos feitos heróicos da cidade.

Monumento aos herois que defenderam Leningrado

Ao sul da cidade e a apenas 9 km da linha da frente, este complexo impressionante que consiste em um Obelisco central de 48 metros rodeado por estátuas de bronze é uma homenagem à vitória que os russos conquistaram sobre os invasores nazistas no final do longo cerco.

A exposição subterrânea é tão perturbadora quanto detalhada, e inclui um enorme mapa em relevo da linha da frente, uma série de caixas de vidro exibindo objetos relacionados com o cerco, informações detalhadas sobre os eventos que ocorreram durante esses 900 dias, e alguns documentários. Lâmpadas de bronze, música sugestiva e a batida do metrônomo (o único som que os habitantes de Leningrado podiam ouvir no rádio durante todo o período da guerra, excluindo anúncios de alarme) contribuem para criar uma atmosfera sombria e trágica.

Rasputin

Grigoriy Efimovich Rasputin, o «camponês», que chegou à corte de Nicolau II num dia de 1905, e que por onze longos anos exercia sua influência obscura e ambígua sobre a família imperial e até mesmo sobre os destinos políticos da Rússia.

Até aquela noite de dezembro de 1916, no qual ele encontrou a morte pelas mãos de um grupo de conspiradores – a expressão da mais alta aristocracia russa – aquele que a imprensa que apoiava a oposição chamava de «monge louco» era, aos olhos da opinião pública, o mais evoluído símbolo vivo dos males da Rússia.

Para o  Nicolau submissivo, mas especialmente para a instavel e emotiva Alexandra, aquele homem rude e aparentemente genuíno, com um olhar magnético e os dotes místicos (ele podia tratar a hemofilia, da qual adoeceu o pequeno Alessio) passou a representar o símbolo de uma Rússia, que estava agonizando diante de seus olhos: a Rússia, país dos camponeses, simples e devotada ao Czar e ao seu poder autocrático concedido por Deus.

Nos mesmos anos em que homens como Lênin, Trotski, Kerenski travaram uma sangrenta luta pelo poder que iria mudar a Rússia e mergulhá-la no século XX, na corte o tempo parecia estar parado. Uma aristocracia entediada e inconsciente aceitou em seu mundo a presença de Rasputin, primeiro com um sentido de novidade esnobe, depois com uma mistura de reverência religiosa e respeito pelo «bom camponês da velha Rússia».Somente quando o poder de Rasputin, começou a desviar-se do mundo laico para a esfera política, e só quando parecia que a família imperial dependia dele, mesmo nas decisões mais importantes, eles perceberam que esse homem deveria ser parado.

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A morte de Rasputin, no entanto, não trouxe os resultados desejados pelos nobres conspiradores. O casal imperial ficou mais isolado da realidade quotidiana do país e convenceu-se do dever de defender a todo custo o sacrossanto poder absoluto e autocrático que durante séculos pertencera ao czar. Mas um ano depois, o mesmo poder absoluto passou a Lênin e aos seus homens. Sobre os escombros de uma Rússia anacrônica e sobre o sangue da família imperial massacrada antes de poder fugir para o estrangeiro, nasceu um novo czar: o Partido Bolchevique.

Gregório Efimovich Rasputin nasceu em julho de 1871, no vilarejo Pokrovskoe, uma pequena aldeia Siberiana na província de Tobolsk, não muito longe dos Montes Urais. O filho de Efim Akovlevic e Anna Egorovna, Rasputin passou os primeiros anos de sua vida, sem afastar-se do seu pequeno mundo rural, também por causa do seu pai – um homem autoritário, que de acordo com as regras simples dos camponeses – afirmava que «as escolas eram feitas de homens imorais e afastavam da religião.» Por esta razão, o jovem Gricha (como o chamavam na família) cresceu na ignorância absoluta, trabalhando nos campos ao lado do seu irmão Misha (Michail).

O destino» visionário » de Grigori Rasputin começou com uma tragédia: caindo numa das terríveis rajadas de gelo do rio Tjura junto com Misha, Gricha conseguiu salvar a si mesmo e seu irmão, mas contraiu uma severa forma de pneumonia. Michail morreu dessa mesma doença, depois de algumas semanas, mas Grigori mais robusto e forte iniciou um longo período de cura, com fortes ataques de febre durante um dos quais teve uma visão: de acordo com as suas palavras, a Virgem Maria apareceu para ele, e o menino foi curado de repente. Depois desta experiência Grigori  tornou-se mais interessado na religião e no mundo dos monges e profetas errantes que foram recebidos com respeito absoluto nas aldeias russas. Os contos destes homens fascinaram Rasputin, que notou como as pessoas simples dependiam das suas palavras e eram especialmente gentis com eles.

Durante o período da adolescência, o jovem Grigori se desenvolveu  fisicamente e descobriu que possuia um carisma especial para as mulheres. Seu olhar intenso e alucinado possuia algo magnético, suas palavras-mesmo que simples de um analfabeto pareciam convincentes para as pessoas com quem ela entrava em contato. Aos vinte anos Rasputin casa-se com Praskovia Fedorovna Dubrovina. Ela da a luz um filho, mas ele morre depois de alguns meses. A dor da perda do pequeno filho o  leva a ter uma segunda visão, um dia, numa floresta. A Virgem o intimida a deixar tudo e ir embora.

O caminho nômade de Rasputin que, após um ano de estudos no Convento de Verchoturje, se considera um» monge» completo, atravessa cidades como Moscou, Kazan, Kiev. Mais tarde ele voltará para sua aldeia natal, onde ele vai construir com a ajuda de alguns fiéis uma igreja pessoal. Embora os padres ortodoxos o acusem de praticar os rituais da seita «chlisty», ele nunca o admitirá e sempre conseguirá defender-se. Com o passar do tempo, muitas pessoas de toda a região começarão a vir visita-lo, e sua fama começará a se espalhar. É neste momento que ele decide partir para São Petersburgo para entrar em contato com as figuras mais eminentes da Igreja Russa.

Graças ao conhecimento dos influentes religiosos como Ivan de Kronstadt, favorito do Czar, e Il’jodor, Bispo de Zaricyn, Rasputin aos poucos começou a entrar não só nas altas esferas do mundo ortodoxo, mas também naquelas da alta sociedade de Petersburgo. Na sala de estar de Olga Lochtina, esposa de um conselheiro de estado, Rasputin tem o primeiro encontro com as pessoas como Anna Virubova, Grand Duquesas Anastasia e Militza, filhas do Rei de Montenegro e Grão-Duque Nikolai  Nikolaevic. Daqui até à família imperial, o passo será curto e natural.

O destino leva Rasputin à corte do Czar como consequência de um fato dramático. O filho favorito da czarina Alessandra, Alexei, sofre de hemofilia e enfrenta uma crise muito grave. Nenhum médico parece ser capaz de encontrar uma cura e a Grã-duquesa Anastacia aconselha a recorrer a esse homem «santo» e com poderes estranhos chamado Rasputin. O fato é que durante as longas madrugadas  entre a nobreza, o sacerdote siberiano tinha participado de sessões espíritas e de » curas » durante as quais ele tinha revelado poderes incomuns. A fama de Rasputin como curador não passou despercebida até mesmo para o casal imperial.

Rasputin é finalmente recebido no palácio: isso acontece no ano 1905. Já desde o primeiro contato com o pequeno Alexei, ele consegue parar com a força da persuasão e da oração o fluxo de sangue que está o enfraquecendo mortalmente. Naquela noite dramática no início do século – e aos olhos da czarina emotiva e muito religiosa – esse evento só pode assumir os contornos de um milagre. A partir desse dia, Grigori Rasputin torna-se a sombra da Imperatriz, ou «o bom homem «, Salvador do Alexei, ou «nosso amigo». Então entre o monge e a Czarina,  se criará uma ligação muito forte, que muitos considerarão ambígua. Este tipo de vínculo se tornará  perigoso nos anos proximos da revolução, quando Alexandra firmemente convencida do poder autocrático do Czar, e determinada a mantê-lo para o marido,  formará uma especie de aliança com Rasputin em uma chave fortemente conservadora.

Durante muitos anos, a presença de Rasputin na corte será vista como uma anomalia suportável por aqueles que se opõem a ele e uma razão de interesse para aqueles que são fisgados  pelo seu charme.

O destino de Rasputin fica marcado quando a Rússia se lança na Primeira Guerra Mundial. O conflito, que deveria ter sido curto, acaba tornando-se uma longa carnificina. As crenças religiosas de Rasputin no entanto são marcadas por um forte pacifismo e fraternidade entre os homens. A guerra, com sua matança de homens enviados para o frente, decepciona o monge que, no outono de 1915, começou a pensar que ele poderia influenciar a Czarina Alexandra – governadora no lugar do Nicolau, para levar a Rússia à paz. Este movimento, juntamente com muitos outros que levarão à nomeação de Ministros favoritos do «amigo da alemã» (assim  foi chamada a czarina Alexandra, Princesa de origem alemã), transformará  Rasputin no inimigo para muitas potências: a casta Militar, a aristocracia nacionalista, a direita, mas também a oposição liberal. Assim nascerão as teorias da conspiração e das» forças das trevas» e teorias sobre a existência de traidores dentro do país (com alusões claras a Rasputin e a czarina) que vendem informações ao inimigo, a Alemanha. A voz principal desses ataques é a extrema – direita — deputado Vladimir Puriskevich. E no momento dramático como o da Primeira Guerra Mundial, Rasputin surgiu como um dos bodes expiatórios responsavel pelas contínuas derrotas do exército russo na frente. Rasputin não faz nada para se defender das acusações, mas alimenta-as continuando suas manobras políticas para alcançar uma paz imediata. Em reuniões com as figuras mais influentes que circulam em torno da corte, ele não deixa de apoiar teses pacifistas e conciliadoras com a Alemanha. Parece também que Rasputin se tornou alvo do serviço de inteligencia britânica, que temia uma retirada militar da Rússia. A Alemanha, de fato, poderia ter libertado a Frente Oriental para posicionar as suas tropas contra os Aliados.

Entre 1915 e 1916 foram feitas numerosas tentativas para retirar o monge da corte. A Rasputin oferecem uma grande quantidade de dinheiro para deixar a capital imediatamente e voltar para a Sibéria. Rasputin não cede à tentativa de corrupção e informa a Czarina sobre isso. Diante a esta enésima vitória de Rasputin, tudo o que resta aos seus inimigos é a conspiração assassina. E os assassinos não serão membros da intelectualidade liberal e progressista, que, no entanto, viram naquele camponês visionário e religioso um símbolo da imobilidade conservadora que estavam tentando quebrar, mas homens pertencentes à mais pura aristocracia russa, e pela razão oposta. Libertar o czar e a sua família da influência nefasta daquele camponês que estava enfraquecendo a coroa e que provavelmente aspirava o poder absoluto.

O grupo de pessoas que queriam eliminar Rasputin foi criado por personalidades importantes. As mais relevantes foram, certamente, o Grão-Duque Dmitri Pavlovic, o deputado Puriskevic e o ambíguo duque Félix Yussupov. O último foi um personagem peculiar da alta sociedade de São Petersburgo: afeminado (com tendências homossexuais), um grande admirador de Oscar Wilde e obcecado pelo desejo de tornar-se alguém reconhecido na história, mas ao mesmo tempo tímido e incapaz. Félix já tinha entrado em contato com Rasputin. Entre os dois se criou uma estranha harmonia, e parece que Rasputin estava de certa forma fascinado pelo comportamento do jovem aristocrata, tão diferente dele. Outro detalhe não negligenciável– e intrigante para o monge – é que Yussupov foi casado com uma das mulheres mais bonitas da Rússia, Irina Aleksandrovna, que era de caráter extremamente reservado e raramente aparecia em público. Félix  Yussupov, embora desprezasse Rasputin, começou a se aproximar dele e visitá-lo regularmente. Durante vários meses, o jovem príncipe e o rude camponês siberiano encontravam-se nas noites dedicadas à música (Yussupov tocava e cantava virtuosamente) e à dança, que Rasputin adorava apaixonadamente.

A teia de aranha que devia prender Rasputin estava se tecendo dia após dia, até a data marcada, que caiu na noite de 16-17 de dezembro de 1916. Enquanto isso, alguns rumores sobre possíveis ataques ao monge circulavam em torno da capital, e o próprio Rasputin não perdia nenhuma ocasião para prever o seu destino triste, ligando-o a um inevitável «fim da Rússia». Nas últimas semanas antes da emboscada, ele foi persuadido a não sair com muita frequência da sua casa na rua Gorohovaya, 64. E mesmo o ministro Protopopov o avisou da existência de um plano para eliminá-lo. E chegou a noite de 16 de dezembro. O assassinato de Rasputin foi estudado em todos os detalhes: Yussupov disse ao monge, que ele voltaria para buscá-lo e levá-lo para sua bela casa, onde ele iria conheser sua esposa, Irina, desfrutar de doces e vinho tinto (o vinho favorito de Rasputin) e depois iriam  para o bairro dos ciganos. Depois da meia – noite, a carruagem do duque Yussupov (cujo guia – disfarçado- era um dos conspiradores, Dr. Lazavert) levou a vítima vestida como para uma grande ocasião. As ruas da capital, naquela noite fria de dezembro, estavam desertas, e poucos olhos curiosos poderiam ter sido testemunhas. O Rasputin também, seguindo o conselho de Yussupov, não disse a ninguém para onde ia.

A cena do crime foi numa sala da Casa do Yussupov. Por duas horas intermináveis Rasputin esperou a chegada da encantadora esposa de Yussupov (que, a propósito, nem estava na cidade), recepcionado pelo príncipe com música, e degustando os famosos doces envenenados e vinho tinto. O resto dos conspiradores estavam à espera na parte de cima. Para grande surpresa e consternação do já emotivo duque, o rude camponês siberiano resistiu ao efeito do veneno (cianeto de potássio muito forte) que ele tinha comido em quantidades impressionantes. Será que ele era mesmo um super-homem com poderes paranormais ? Nos primeiros sintomas da fraqueza de Rasputin, Yussupov, em pânico e sob o pretexto de chamar um médico, foi para parte de cima onde concordou com os outros conspiradores para eliminar o monge com um tiro. Se Rasputin tivesse abandonado o palácio, o plano teria miseravelmente falhado. Neste momento os testemunhos estão confusos. O chocante para todos foi que, Rasputin cheio de veneno e ferido perto do coração por Félix, conseguiu recuperar a consciência, reunir forças para sair do palácio (enquanto os conspiradores em outra sala decidiam o que fazer com o «cadáver») e se atirar no jardim cheio de neve em direção ao portão de saída que parecia ser a salvação. Perseguido e alcançado aos poucos passos do portão por conspiradores, ele foi atingido no crânio várias vezes, por  Yussupov com um bastão: e apos alguns segundos parecia que a morte estivesse vindo. Com a ajuda dos criados o corpo de Rasputin foi embrulhado em um cobertor, amarrado e jogado no rio Neva. Em 19 de dezembro, o corpo congelado de Grigory Rasputin foi retirado. A autópsia revelou a ausência de vestígios de veneno no corpo da vítima, e isso seria para alguns historiadores a prova de que a tentativa de envenenamento nem foi realizada.

A czarina Alexandra recebeu a notícia com desespero, enquanto várias fontes falam de Nicolau bastante indiferente ao incidente. Nos últimos meses, ele manifestou preocupação com o papel cada vez mais pesado que Rasputin assumia na corte. Talvez graças a esta atitude do czar – mas certamente também ao fato de que entre os conspiradores havia nobres relacionados com a coroa – ninguém sofreu uma punição exemplar. Yussupov também não foi punido  e mais tarde conseguiu evitar a Revolução, mudando-se para Paris e abandonando uma Rússia que já não era sua. A Duma defendeu Puriskevich, que partiu com o médico Lazovert para a frente. O grão-duque Dmitry foi para a Pérsia. Assim terminou a incrível história de Gregory Efimovic Rasputin, um camponês semi-analfabeto que – como nos velhos contos de fadas e lendas -, emergiu da escuridão de uma pequena aldeia siberiana para alcançar o apogeu do poder quase absoluto. Logo todo mundo esqueceu daquela estranha figura que há anos fascinava, preocupava e aterrorizava a sociedade russa. A Rússia estava à beira de uma tragédia muito mais imponente…

E aquele homem condenado que, ferido à morte e cheio de veneno, escapava arrastando-se na neve perseguido por seus assassinos, representava toda a Rússia, a velha Rússia fora do tempo, que se agarrava a um mundo que a história estava abandonando.